30 de julho de 2016

Banda desenhada e ficção científica, uma introdução.

Nota inicial: Alguns textos nascem de circunstâncias tão específicas que não ganham o mesmo contorno de perenidade do que quando lavrados com o intuito de serem publicados. Todavia, acreditando que poderá (esperemos) algum mérito num ou outro apontamento, tal como já ocorreu no passado, colocaremos aqui o texto lido por ocasião da mesa-redonda organizada para a última edição do Sci-Fi Lx, anunciado anteriormente

Fizéramos isto no caso do texto lido na SHOT 50, igualmente em torno da ficção científica, e aproveitando algumas noções pensadas para um texto anterior na Vértice, "A banda desenhada como Gedankexperiement, o exemplo de Grant Morrison." Mas o pretendido neste outro texto era tão-somente a criação de um substrato sobre o encontro entre a banda desenhada e a ficção científica, e lançar algumas linhas de reflexão que depois seriam discutidas pelos autores presentes, a saber, André Coelho, André Pereira, Carlos Pedro e Sofia Neto, o que foi feito com entusiasmo e desenvoltura intelectual. A versão do texto que apresentamos são apenas as notas mais estruturadas e não correspondem nem à totalidade nem à ordem do que foi dito. (Mais) 

Colaboração na Revista Três Três # 6.

Serve o presente post para indicar que no último número, o 6º, da revista Três Três, de um colectivo das Caldas da Rainha, saiu uma curta banda desenhada de Nuno Fragata que conta com as palavras deste vosso criado. "Odor" é uma experiência curiosa em que tudo foi lavrado pelo artista-autor sem qualquer intervenção nossa (não se tratando, por isso, de um "argumento"), e depois criámos legendas que pudessem tecer uma faixa textual em torno da história.

A revista é temática, trabalhando em torno de um mote, sendo o deste número "marginal". Encontrarão ensaios e poesia, exercícios de artes visuais e outros objectos textuais mais difíceis de descrever. Com uma carga política aqui e ali mais vincada, é algo estranho ter na capa uma cena clássica de bdsm que pode ser interpretada problematicamente.  A descobrir e tomar decisões por vós mesmos. 

Página de Facebook do projecto aqui, e números consultáveis na issuu aqui.

28 de julho de 2016

Iconolatry. André Coelho (Universal Tongue)

A propósito do fanzine Deathgrind, de Zé Burnay, citáramos uma entrevista a Fernando Ribeiro, em que o vocalista dos Moonspell havia descrito muita da imagética associada ao heavy metal em geral como sendo uma “fantasia dos fracos”. Esse outro autor transformava muita dessa iconografia em elementos passíveis de transformações narrativas, usando e abusando de géneros para criar scherzos de alta octanagem e dinâmica narrativa. Até certo ponto, existem largas linhas de afinidades com esta publicação, mas o trabalho de André Coelho trilha de outras maneiras. (Mais)

26 de julho de 2016

O fabuloso quadrinho brasileiro de 2015 (Narval)

Esta antologia parece pretender tornar-se um gesto anual, uma paragem única e concentrada que reunirá material de várias fontes, criando uma imagem agregada mas variada da produção nacional, no Brasil, de banda desenhada. Não pretende esgotar o assunto, nem trilhar um caminho único, mas providenciar um público mais generalizado com instrumentos para poder aceder a alguma produção que, mesmo no Brasil, poderá eventualmente escapar à atenção mediática mais usual, presa que estará à exposição a objectos desde logo familiares. Tendo já neste espaço tecido ideias sobre a natureza das antologias, o seu gesto de “florilégio” e de “embaixada”, duas metáforas que funcionam na perfeição aqui, entremos de chofre no seu trabalho. (Mais) 

23 de julho de 2016

Tudo isto é fado! Nuno Saraiva (Sol/EGEAC/Museu do Fado)

É bem possível que, anos no futuro, olhemos para trás e vejamos o papel de Nuno Saraiva como que ocupando um papel fundamental numa certa imagem de Lisboa. Uma das grandes desvantagens de existir apenas uma certa atenção crítica ou massificada para com banda desenhada existente em livros é colocar na sombra outro tipo de produções, como por exemplo a banda desenhada em jornal, a qual, não sendo de facto mais uma das colunas vertebrais desta disciplina artística, como o foi entre os séculos XIX e XX, não deixa de ter aqui e ali alguma presença. E no caso de Saraiva, uma presença de uma importância extrema. Afinal de contas, a sua produção tem atravessado décadas quase ininterruptas de uma média de duas páginas publicadas por semana em vários semanários, do Independente ao Expresso, e inclusive o Sol, de onde saem estas páginas reunidas em volume. E se algumas séries primitivas associadas aos jornais foram sendo reunidas em livro (Filosofia de Ponta, Arnaldo o pós-cataléptico, A Guarda Abília), muitas outras nunca encontraram esse poiso físico mais definitivo, e quase seguramente mais por responsabilidade do próprio autor, mais preocupado com a produção do passo seguinte, do que esse balanço e congelamento da forma através da colecção livresca (restava o blog Na terra como no céu). (Mais) 

21 de julho de 2016

The New Mutants. Ramzi Fawaz (New York University Press)

Tendo como sub-título Superheroes and the Radical Imagination of American Comics, compreender-se-á de imediato o objecto de estudo deste volume académico, assim como a matéria que é desalojada para lhe prestar atenção crítica. Basicamente, este é um estudo das figuras dos superheróis no contexto histórico e cultural norte-americano, criando um filtro que permite ver essas personagens como capazes de reconfigurar imaginativa mas igualmente politicamente (isto é, com efeitos na pólis) vários tipos de inscrição cultural. Desta feita, o autor contribui de uma forma sustentada e feliz para com a consideração da banda desenhada como, acima de tudo, para citar uma das cartas enviadas às editoras que o investigador utiliza, “espaço legítimo para pôr em prática ideais” (195). (Mais) 

17 de julho de 2016

Tex: Patagónia. Mauro Boselli e Pasquale Frisenda (Polvo)

A personagem concebida por Gian Luigi Bonelli e Aurelio Galleppini em 1948 tem uma vida longa, diversa e explorada das mais diversas formas, não apenas em banda desenhada (se bem que é apenas nessa linguagem que atinge alguma qualidade) e não nos atreveremos sequer a encetar uma tentativa de a reduzir a uma apresentação sumária, sempre dada a falhas. De resto, a sua recepção em Portugal tem sido particularmente feliz, pelo menos em termos de respostas activas da parte dos seus fãs mais activos, pela existência não apenas do Clube Tex como pela criação de uma revista própria, acessível aos sócios. Acrescenta a que essa recepção seja surpreendente pelo facto das edições dessa personagem serem sobretudo as brasileiras (cuja recepção é de tal importância que existem mesmo estudos sobre isso, como é exemplo O mocinho do Brasil, de Gonçalo Junior, editora Laços: 2009), mas também italianas, espanholas e, quiçá, as outras línguas em que esta personagem é publicada, no paradoxal papel de personagem muita amada mas não sendo famosa fora desse mesmo círculo. Havendo fãs e conhecedores sólidos dessa série, com espaços próprios, não podemos sequer integrar Patagónia na sua contínua história, mas considerá-lo como um texto singular. 

16 de julho de 2016

Songs. João Fazenda (auto-edição)

Songs é um pequeno livro que reúne dezassete histórias curtas em prosa, acompanhadas por um desenho, cuja relação com esse texto não é de todo a de uma ilustração tout court, mas procurando complementaridades visuais que não estavam previstas. E havendo ainda alguns desenhos extra, com cenas aparentemente sem relação quer com as outras cenas visuais quer com a matéria dos contos. (Mais) 

14 de julho de 2016

Os Vampiros. Filipe Melo e Juan Cavia (Tinta da China)

Nota inicial: O texto seguinte é algo distinto da prática deste espaço. Não sendo a primeira vez que escrevemos um texto a meias, ou contamos com uma presença "de fora" do lerbd, a estrutura deste post é inédita aqui. O que se segue é uma crítica sob a forma de um diálogo entre nós e Gabriel Martins, que alimenta o seu próprio blog, Alternative Prison, e escreve regularmente para a deusmelivro.com. Apesar de ter sido um diálogo levado a cabo durante algum tempo ao vivo, não estávamos a encontrar forma de dar a lume a sua estrutura, pelo que se resolveu reconstruir as mesmas ideias esgrimidas numa forma textual, entre o discurso costumeiro deste espaço e uma abordagem mais espontânea. (Mais) 

13 de julho de 2016

Mesas-redondas no Sci-Fi Lx 2016.


Serve o present post para falar de duas participações em mesas-redondas, ambas integradas na programa do encontro Sci-Fi Lx, que decorrerá este próximo fim-de-semana no Instituto Superior Técnico.

A primeira é uma mesa-redonda que terá lugar no Sábado, dia 16 de Julho, às 18h. Serão apresentadas duas curtas-metragens realizadas por Jerónimo Rocha, Dédalo e Arcana, seguidas de um encontro com o director de produção João Cabezas, o caracterizador João Rapaz e eu próprio, na qualidade de co-argumentista da transformação da Dédalo numa longa-metragem e série televisiva. Uma vez que há ainda uma exposição associada a estes projectos, a conversa terá a ver com a produção e execução dos projectos existentes, e os processos envolvidos nos seus futuros. 

A segunda é no dia 17 e tem início às 15h. Tratar-se-á de um encontro sobre banda desenhada e ficção científica, com os artistas convidados André Coelho, Carlos Pedro, André Pereira e Sofia Neto, sendo eu o coordenador e moderador da mesma. Esperemos tratar-se de uma conversa centrada na prática destes artistas em particular, mas esperando que se possa alargar o escopo da conversa a especificidades desta arte com este género, o estado corrente da mesma, e que questões da fc podem ser abordadas de que maneira particular pela bd. 

Mais informações na página de Facebook do evento e site.





11 de julho de 2016

5 títulos. AAVV (Éditions Matière)

São por demais os artigos que, discutindo a banda desenhada e as suas hipotéticas “potencialidades”, jamais acabam por se referirem àqueles textos existentes que de facto exploram essas mesmas margens, ou melhor dizendo, perscrutam novos territórios que se vão estendendo paulatinamente. Por outras palavras, é uma patetice alegre esperar pelo futuro da banda desenhada em objectos de mediocridade normativa, quando esse futuro já medra. Basta abrir a pestana. 

A teórica literária Lisa Zunshine, por exemplo, num seu artigo em que aborda a banda desenhada, compreende esta como “artefactos que coordenam textos e imagens de tal forma que a informação sobre os sentimentos das pessoas a que acedemos ao olhar para a sua linguagem corporal elabora, contradiz ou simplesmente complica as descrições verbais desses sentimentos”. Zunshine é uma autora que se tem dedicado à intersecção dos estudos literários com as ciências cognitivas, por isso não é surpreendente que mencione com particularidade os sentimentos das personagens e as inferências (“de uma maneira rápida, confusa e intuitiva”) que tiraremos das suas representações. E insiste mesmo quando parece querer olhar para além dessa limitação: “as narrativas gráficas, sobretudo aquelas inclinadas com a experimentação visual, examinam intuitivamente a nossa tendência de observar, interpretar e reinterpretar obsessivamente corpos demonstrando emoções, ao mesmo tempo que nos mantemos abstraídos dos vários passos envolvidos neste processo de leitura de mentes ficcionais”. A autora, portanto, insiste numa agência humana da narratibilidade da banda desenhada. (Mais)

10 de julho de 2016

Geneviève Castrée. 1981-2016.

Merci, Geneviève, je te souhaite un bon sommeil.

Fica-te o Susceptible e as tuas outras obras.



8 de julho de 2016

Quireward # 02.

O novo número da Quireward está já disponível. 

Toda em inglês, tem o segundo e último episódio da adaptação de Ricardo Santo de A dama de pés-de-cabra, o segundo episódio de "Matias", escrito por mim e desenhado por Sérgio Sequeira, e ainda "Blahnik", uma transformação de um conto curto em prosa meu com André Coelho. 

Capa de Cláudia Loureiro e design de Playground Atelier. Impresso a uma cor em risografia. Amanhã à venda na Feira Morta da Bedeteca dos Olivais. 32 páginas. 100 exemplares.

[sobre # 01]

Eu, assassino. Antonio Altarriba e Keko (Arte de Autor)

Depois da recepção significativa de El arte de volar, e a sua integração na exposição sobre autobiografia no FIBDA, é natural que tenha surgido uma atenção maior para com o trabalho de Altarriba, que se havia nutrido sobretudo num círculo mais restrito literário, e no que diz respeito àquele relacionado com a banda desenhada, apenas numa esfera académica (Altarriba é também um investigador do campo) ou de experiências literárias afectas, como foi o caso do livro “proibido” sobre Tintin. A publicação em português deste volume vem juntar-se a dois outros volumes saídos nas duas colecções Novelas Gráficas, da Levoir, com A arte de voar no ano passado e o volume que sairá em Setembro. Todavia, se esses dois outros títulos são estritamente do campo autobiográfico, mesmo que expandido tocando as vidas dos pais, respectivamente, Eu, assassino procura explorar uma outra maneira de fazer implicar o eu, que não através do programa clássico da confusão entre narrador, protagonista e autor. (Mais)

7 de julho de 2016

Hora de aventuras, vol. 1. Ryan North et al. (Devir)

O lançamento do primeiro volume desta série faz esperar por uma tendência de alguma saudável diversidade em relação à banda desenhada para um público mais infantil, que não passe nem pelos grandes impérios comerciais costumeiros (se bem que este seja igualmente um produto da indústria massificada de entretenimento e consumo, não tenhamos dúvidas), nem por uma subsunção a princípios pedagógicos moralizantes, criados por uma comissão de marketeers e pedagogos. Adventure Time, ou Hora de Aventuras, é apesar de tudo um projecto autoral, algo doidivanas e divertido. O que poderá, todavia, ser precisamente um dos factores que cria obstáculos junto aos progenitores do seu público-alvo. (Mais)

5 de julho de 2016

Guadalupe. Angélia Freitas e Odyr (Polvo)

Dividido em cinco capítulos, com mini-capítulos extra, Guadalupe centra-se numa road trip da protagonista homónima, que viaja deste a Cidade do México até a Oaxaca, para sul, para enterrar a sua velhota avó Elvira, viajando com o seu tio Minerva. Mas como esse mesmo género pretende, o que se cria é uma circunstância de focalização constrita em termos de espaço (paradoxalmente) e de tempo (linear) para que nos foquemos sobretudo nas dinâmicas mutantes entre as personagens ao longo do evento-motivo, e como elas se formam por factores externos. (Mais)

3 de julho de 2016

A Girl on the Shore. Inio Asano (Vertical Comics)

Como tem ocorrido tantas vezes em relação à banda desenhada japonesa, ou sobretudo no que diz respeito à sua recepção ocidental, Asano é um daqueles autores que numa primeiríssima fase ganhou proeminência sobretudo nos círculos das scanlations, mas rapidamente conseguiu assegurar um lugar numa circulação mais oficial e comercial, com traduções em inglês e francês das suas obras. Ao contrário de duas ou três gerações atrás, não precisamos de esperar décadas para ter acesso a traduções e edições cuidadas dos importantes autores contemporâneos desse país (de outros, o esforço continua). Oscilando entre séries extensas e histórias em volumes isolados, A Girl on the Shore pertence à segunda categoria e vem confirmar o autor como a voz da sua geração no que diz respeito a uma representação da melancolia urbana e da sufocação emocional da juventude japonesa (ou global). Algo que, de resto, parece ser uma característica de alguma literatura japonesa contemporânea, como se o afã daquela sociedade obrigasse a uma resposta quase apática. (Mais)