25 de novembro de 2014

Interlúdio francês: Lerbd em Amiens.

Serve o presente para informar os leitores assíduos (e os menos assíduos) do LerBD que haverá um intervalo de posts nos próximos dias, por ocasião da nossa estada em França.

Estando a decorrer a primeira edição de uma "DU" (formação com direito a "diploma universitário") em "Criação de banda desenhada" na Faculdade de Artes da Universidade Jules Verne, da Picardia, na cidade de Amiens, e tendo sido convidados para ministrar a disciplina de "História da banda desenhada", estaremos afastados da blogosfera por uma semana, mais coisa menos coisa.

No entanto, queríamos partilhar a alegria e honra que é esta oportunidade em ensinar numa plataforma prestigiante e internacional. Sendo o objectivo dar a conhecer (em apenas 9 horas!) as questões de fundo da história desta forma de arte, e atravessando o máximo dos pólos de produção (que conhecemos, bien sûr), haverá seguramente para "meter a colher portuguesa" algures...

Aproveitaremos também para visitar o Salon des Ouvrages sur la BD, em Paris, e umas quantas livrarias...

24 de novembro de 2014

AAVV. 2 Pattes de Mouche (L'Association)

Depois de um mais ou menos prolongado hiato da colecção, já para não falar da dificuldade de a ver distribuída comercialmente pelos nossos pontos de venda, a colecção Patte de Mouche tem dado sinais de continuidade, quer com os autores perenes da casa, quer com novos artistas quer com amigos que por lá passam. É precisamente o caso destes três livros (que já têm cerca de um ano) de que queremos dar breve recado. (Mais) 

20 de novembro de 2014

Compêndio de geometria clitoridiana. Mattia Denisse (Galeria Bessa Pereira)

A angariação deste pequeno objecto, que parece revestir-se de uma natureza descartável, para esta constelação mínima de livros-de-artista, poderá, à luz das anteriores publicações, soar deslocado, um desvio demasiado grande para uma força agregadora, um salto demasiado abusivo de um gesto concentrado. Poderá, mas a natureza fluida que queremos ajuizar nestes mesmos objectos terá de permitir que, mesmo na existência de uma imensa torrente central, cujas margens pareçam perenes e unidireccionais, haverá sempre espaço para afluentes, lagoas, reentrâncias, desvios, baías, pântanos, mangais, com toda a espécie de vegetação e vida animal, por vezes demasiado movente para que se a consiga catalogar. Ou pior, tanto movente que no momento da sua catalogação, já se mutou em formas novas.

É precisamente isso o que nos parece ocorrer sempre que nos deparamos com os gestos de Mattia Denisse. (Mais) 

19 de novembro de 2014

Monkey Trip. Gonçalo Pena (Mousse Publishing)

Na continuidade do artigo anterior, e após a sua introdução geral, passemos à consideração desta “colecção de desenhos” de Gonçalo Pena, pequena galeria portável. Traduzindo de forma “selvagem” (à lá revista K) a expressão de “viagem macaca”, poder-se-ia dizer de facto que este volume é tão-somente uma colecção de desenhos de Pena. Conhecido sobretudo por uma prestação de telas imensas a um gosto antigo mas onde se investigam novas possibilidades de recruzamentos simbólicos, e por um inaudito fanzine-acto nas Caldas da Rainha (o “Cona da Mão”), Pena é um artista cujos instrumentos o colocam sempre na senda de ingredientes mais ou menos classicizantes: a figura humana, o desenho a traço, as promessas narrativas que dele pode advir, as noções de “ciclos” (temáticos, matéricos, composicionais). (Mais) 

18 de novembro de 2014

3 livros de artista. 1: The Cabinet of Dr. Alice. Alice Geirinhas (Stolen Books)

Introdução.
Queremos aqui agregar num único olhar três objectos distintos. Esta operação de colocar lado a lado estas três publicações não deixa de exercer um certo abuso, uma vez que elimina certos pormenores singulares de cada um destes projectos para os conjugar de acordo com um qualquer princípio que julgamos ser-lhes comum, um princípio que poderia ter o nome fluido de “livro de artista”. Se bem que cada um mereça uma leitura individualizada, e uma ponderação dos seus instrumentos e elementos que os singularize, e não crie a ilusão de familiaridade, estamos em crer que a sua consideração conjunta poderá sublinhar questões pertinentes partilhadas por todos. (Mais) 

12 de novembro de 2014

Pelos olhos dentro/40 x Abril. AAVV (Abysmo/Arranha-Céus)

Ambos os livros que trazemos à vossa atenção neste único texto provêm de um universo relativamente idêntico. Apesar de nascerem sob dois gestos diferentes, reunirem pessoas diferentes e serem editados por plataformas diferentes, eles contêm afinidades editoriais, criativas, políticas e culturais por demais evidentes, que justifica, até certo ponto, que possam ser consideradas sob o mesmo fôlego. (Mais) 

11 de novembro de 2014

Banda desenhada e pequenos traumas... em Braga.

Serve o presente post para indicar que estarei presente no XVI Colóquio de Outono da Universidade do Minho, em Braga. Coordenado e organizado pelo CEHUM, farei uma comunicação intitulada "Pequenos traumas: banda desenhada e teoria do trauma", que focará, como objecto de estudo, o Diário Rasgado de Marco Mendes, sobretudo na sua dimensão política e de representação colectiva.

Se vos for possível, apareçam.

Mais informações e programa aqui.

9 de novembro de 2014

The Rise of Aurora West. Paul Pope, JT Petty, David Rubín (First Second)

As afinidades entre Paul Pope e David Rubín não são poucas nem negligenciáveis na apreciação das obras de ambos. É então sem grande surpresa, no fundo, que encontramos frutos do seu encontro, permitidos pela forma como o mercado actual da banda desenhada permite uma circulação cada vez mais sólida e diversa de autores entre países que, até há uma década, se encontravam relativamente “isolados” em matéria de criação, salvo casos pontuais. Não há hoje necessidade de “emigrar” para vingar ou entrar em mercados internacionais. E ao vermos o tipo de intensidade emocional e regresso a um certo prazer juvenil em El heróe e Battling Boy, já para não falar das pesquisas intertextuais e citações integradas respectivas, quase se poderia dizer que era inevitável o seu cruzamento. Ei-lo. (Mais)

6 de novembro de 2014

War is Hoover... Filipe Abranches (Imprensa Canalha)

Criado na sequência do convite estendido ao artista de estar presente no Festival de Treviso, no qual Portugal foi o país convidado, e se publicou uma colectânea de trabalhos traduzidos editados por Marcos Farrajota, este pequeno fanzine é na verdade um projecto de resgate em duas acepções. Num sentido da prática artística e no da narrativa aqui oferecida. (Mais) 

5 de novembro de 2014

Uma perna maior que a outra. José Feitor (Imprensa Canalha)

Lenta, mas de modo contundente, e pouco inócua quando o faz, cá martela a Imprensa Canalha os seus pequenos objectos gráficos, que habitam aqueles terrenos baldios entre a banda desenhada, a ilustração, o desenho, o exercício de junção de ideias soltas, apontamentos, rabiscos e fragmentos de frases. Uma última fornada providencia-nos com dois títulos, um do seu editor, José Feitor, e outro de Filipe Abranches, de que falaremos em seguida. Comecemos pelo primeiro, Uma perna maior que a outra. (Mais) 

4 de novembro de 2014

Μήδεια ("Medeia"). Mariana Waechter (Sáfaro)

Ao folhearmos este livro, cria-se um mecanismo estranho de leitura. Na primeira imagem, de página inteira, vemos um poste eléctrico, cheio de fios e ligações. Na segunda, uma caixa de fósforos semi-aberta. Na terceira, já apresentando uma estrutura de várias vinhetas (duas apenas, mas num jogo de luz e sombras que multiplica a imagem maior em unidades menores), o que parece ser um bode em pé, olhando a chuva lá fora. Depois, introduz-se uma personagem humana, uma mulher arranjando as unhas a outra mulher. As imagens que se seguirão ora vão multiplicando os agentes, os espaços, os eventos, algumas vezes demonstrando pequenas sequências, outras fazendo regressar algumas personagens recorrentes, outras ainda recolocando objectos em diferentes funções, e apenas lentamente, lentamente, é que podemos destrinçar uma ideia de “narrativa” - já que uma intriga nítida e cristalina jamais se coalescerá – destas imagens aparentemente desconexas. Apetece-se dizer, com Fernando Pessoa, imagens “inconjuntas”, e com Giorgio Colli, falar de um “mel da narração” que garante coesão aos elementos díspares. (Mais)