22 de fevereiro de 2006

Fire. Alex Lukas (Cantab)


Este é um dos zines mais interessantes que me vieram parar à mão, por razões físicas, relacionadas com o papel utilizado, do que por qualquer outras. Uma descrição nua e crua impõe-se: a capa é feita de cartão cinzento, impressa a várias cores, pinceladas de amarelo e vermelho que, sobrepostas, fazem aparecer laranjas. Depois, uma folha rosa, com o mesmo tipo de pinceladas, numa direcção oposta às da capa, a preto, com um “arco/túnel” ao “fundo”. Seguem-se duas folhas brancas, em que se representa o protagonista, um bombeiro avançando para uma coluna de fumo (e o título, “Fire”). Finalmente, mais quatro páginas/folhas de cartolina preta, impressas a preto – o que nos obriga a balançar o livrinho nas mãos para ver as imagens – onde o bombeiro, já no centro do incêndio, luta contra uma ameaçadora criatura (ilusão?). Depois retomam-se as folhas brancas – bombeiro a sair do metro, entende-se agora, e a guarda rosa. A contra-capa é idêntica à capa, obviamente, sem quaisquer inscrições, preço, etc.
Ou seja, este é precisamente uma publicação cujo “texto” a ler e interpretar não se fica simplesmente pelas “páginas do interior”, mas em que se deve tomar em conta todo o livro. Claro, é isso o que acontece com a esmagadora maioria dos livros de banda desenhada – e se tivermos em conta as ilustrações feitas para Jules Verne, as indicações de Kafka para as capas dos seus livros, e centenas de outros exemplo, poderíamos ir alargando esta afirmação. Mas neste caso em particular, esse gesto é óbvio, gritante, e não poderemos escapar dele. Essa interpretação não é difícil nem obscura. Pergunto-me só se, nesta breve travessia do bombeiro pelas trevas e os demónios do fogo, tendo em conta as capas bruxuleantes, quem engole quem e quem vence quem?
Nota: mais informações, e para o obter: www.cantabpublishing.comPosted by Picasa

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