25 de outubro de 2005

Gongwanadon. Thomas Herpich (Alternative Comics). Post-Fanzine?, parte 2.


Em relação ao Big Questions, de Anders Nielsen, aqui não se trata de uma publicação que já existira enquanto fanzine (clássico) posteriormente apoiado por uma máquina editorial. Thomas Herpich tinha já uma outra publicação na Alternative Comics, Cusp (de que falei na Quadrado # 5, Junho de 2003), muito similar a esta. Tinha dito que apesar do carácter multímodo dos trabalhos aí apresentados – desenhos soltos, histórias de uma página ou pouco mais, exercícios de estilo – que se poderiam entender ali presentes “bons auspícios”. Na verdade, não posso dizer que sinto as expectativas algo goradas neste Gongwanadon. Sabendo que Herpich trabalha na animação, e que aí emprega todas as suas principais energias, leva-nos a entender as suas publicações em papel como uma espécie de prática terapêutica, de “afterthought”. Banda desenhada automática. Não é que isso em si seja uma escolha moralmente incorrecta ou esteticamente improfícua. De todo! Muitas vezes é até o contrário que sucede, e o território fanzínico é precisamente o mais aberto a esse tipo de experimentação à flor da consciência...
Simplesmente esperava que alguns dos temas, algumas das suas forças, pontos de interesse se mantivessem nesta sua segunda aventura editorial. E estando afastados dois anos um do outro, provavelmente o meu cérebro de polícia estava a desejar por uma espécie de “normalização”... como se só criando uma estória una e coesa fosse o caminho para provar o seu “crescimento” ou “maturidade”. Mea culpa.
Continuam a ser enigmáticas as formas como explora as características mais manifestas dos géneros – high-fantasy, ficção científica, self-fiction – para as derrotar através do absurdo ou de uma curva apertada na lógica que os seus desenhos, aparentemente de linhas suaves e calmas, são capazes. Penso que em “Werewolf” há uma série de piscadelas de olho e convergências para a criação desta história: desde o filme Lobijovem, a toda a panóplia de autobiografias e auto-ficções na banda desenhada (Chester Brown, Jeffrey Brown, Debbie Dreschler, & etc.), e até a uma “piada à Chris Ware”. É como se, neste seu processo ainda em curso de “descobrir a voz”, Thomas Herpich experimentasse vários territórios, estilos, para depois os abandonar – alguns dos desenhos parecem cascas abandonadas de uma ideia fugaz – e avançar numa outra direcção. Nada se apresenta como obstáculo nessa procura, nem um bocadinho de violência, nem um bocadinho de sexo, nem de perversidades hoje “ilegais”.
O nó (mínimo) com a questão do fanzine é tão-somente o facto de, sendo um objecto totalmente liberto, é apoiado por uma casa assente no mercado. Nada mais, nada menos. Mas é isso o que nos leva a pensar numa espécie de abertura contemporânea ao post-zine: ainda como “espaço de liberdade”, mas canalizado por uma máquina comercial com os seus princípios particulares. Posted by Picasa

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