2 de maio de 2005

Lettres d'un temps Éloigné. Lorenzo Mattotti; com Giandello e Ambrosi (Casterman)


A primeira impressão, superficial, é de que estas histórias curtas foram colocadas lado a lado num só álbum por razões de semelhança. Todas estas histórias parecem ter elementos em comum: uma viagem, um interlocutor afastado no tempo ou no espaço, ou ambos), amores que apenas sobrevivem e se consolidam pela ausência dos amantes, sensações que passam pelo corpo físico para atingir outros corpos.
Não há como não fazer aproximações a filmes-diário (cujo caso paradigmático me parece ser Sans Soleil, de Chris Marker), cujas memórias de uma pessoa servem para retratar a de uma outra. Aqui há diálogos cujo segundo interlocutor jamais está presente, precisamente porque estará sempre presente em nós mesmos, leitores. No entanto, não se trata de questões de completar a história através de nós mesmos, mas sim olhar esse vazio e preenchê-lo com a nossa vida, iluminando assim a vida do próprio livro... não são “obras abertas”, mas “generosas com os seus vazios”. Pessoalmente, parece-me que é na primeira estória a sequência da transformação do corpo dolorido em alucinações o maior assombro desse sentido.
Originalmente, foram estas curtas histórias publicadas na revista (À Suivre), e aqui apresentam-se com pequenas alterações de arranjo gráfico, que não nos importa cotejar para já. Um reparo da ordem do moral a fazer é, porém, o seguinte: ao passo que há uma certa humildade e respeito da parte de Frank Miller em convidar surgir na capa de 300 o nome da sua colaboradora (e mulher), admitindo que a cor representa um elemento fulcral à legibilidade do mesmo (e como em Mattotti a cor é expressão quase pura!) é um pouco absurdo ver como nesta edição os nomes de Lilia Ambrosi (a ex-mulher, com quem já assinou outros livros, como O Homem à Janela, editado em Portugal pela Fenda) e Giandelli, enquanto escritores, é apenas deixado nas folhas de apresentação de cada uma das histórias.Posted by Hello

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